(Tô de mal!, "Não falo com você", Natalie Dee)
"Knowing me, knowing you
There is nothing we can do
Knowing me, knowing you
We just have to face it, this time we're through...
Breaking up is never easy, I know but I have to go...
Knowing me, knowing you
It's the best I can do..."
(ABBA, Knowing me, Knowing you)
A respeito dos suecos e suecas se pode dizer muitas coisas, e embora eu ache esta afirmação um tanto polêmica, ouso afirmar que ao contrário dos brasileiros os suecos não fazem "rodeios" nem "floreamento" para dizer o que desejam.
Comparem comigo o seguinte exemplo: semana passada eu recebi uma moradora do nosso condomínio pedindo para que eu participasse de um abaixo assinado a favor da permanência do nosso zelador quem a nova síndica decidiu despedir.
Concordei rapidamente e assinei de cara, mas ainda assim, os 5 minutos de conversa entre eu ela foram recheados de talvez umas 17 vezes da seguinte frase: "... olha é para ficar bem claro que eu e o pessoal quem está organizando a lista não temos NADA contra a síndica, só não concordamos com a decisão dela...". E de novo: "nós não estamos brigando com a síndica, nosso desejo é apenas que o zelador continue ...". E dali 3 minutos: "A gente não quer brigar com ninguém... esse não é um movimento contra a administração é que nós...".
Como assim não tem nada contra a síndica? O abaixo assinado não é contra a decisão dela? Como assim não quer brigar? Vocês não estão organizando dezenas de moradores para impedirem o decidido?
É estranho perceber como para nós as questões por mais longe que estejam da esfera pessoal é sempre para ela a qual nos remetemos. Temos medo de ficar de mal, de comer mingau...
Fechei a porta meio rindo sozinha, pois foi impossível não me ver em meio aos amigos, amigas, colegas ou simplesmente gente nativa ou crescida na Suécia que teria me abordado de maneira totalmente diferente, se eu imaginasse uma situação hipotética do mesmo caso. Na verdade totalmente hipotética porque lá não há zelador, nem porteiro, nem gente que vá fazer um abaixo assinado dessa natureza! Ainda assim, se fosse possível, a vizinha nunca diria que ela não está fazendo aquilo que ela de fato está fazendo!
Enquanto nossa cultura é de já ir pedindo desculpas por aquilo pelo qual nem queremos nos desculpar, ir por aqui, por lá para chegar ali e dizer mais ou menos o que pensamos e ainda concluir algo como "eu quero isso, mas se você não concordar a gente pode ver um jeito que fique bom pra você e pra mim, apesar de não ser bem o meu desejo inicial.."
Se você, por exemplo, pedir um favor a uma amiga ou amiga sueca e isso não puder ser feito a resposta será direta e reta: "Desculpe, Sônia. Nisso eu não posso lhe ajudar..."
A resposta brasileira típica provavelmente seria: "Sabe o que é... Poder agora eu não posso, mas talvez se eu der um jeito no meu horário... Hum... Deixa eu ver.... É que nossa! Ando tão atarefada esses dias que... então... que chato, nesse dia eu não vou mesmo poder te ajudar... mas se você quiser a gente pode ver um outro dia..."
Se você oferecer uma festinha e fizer doces tipicamente brasileiros bem doces vai certamente ouvir de algum deles: "Obrigada, mas achei muito doce para meu gosto!"
Numa situação correlata sobre doces azedos horríveis suecos muitos de nós talvez disséssemos: "Ahnnn... nossa! que diferente o sabor... Não é doce como os nossos doces, é mais azedinho, meio diferente. Não tem a ver com o meu paladar, mas tem muita gente no Brasil que iria gostar com certeza!"
E se você precisar se atrasar para um compromisso na Suécia e tentar jogar a desculpa no tráfico intenso terá sem delongas do outro lado: "Desculpe, mas agora não poderei mais lhe receber, pois você chegou 10 minutos atrasado e agora eu irei me atrasar para outro compromisso".
Infelizmente isso não significa afirmar que todos os suecos e suecas dizem sempre o que tem em mente. Eles como a gente não são feitos em forma de assar! Suecos inclusive odeiam confrontos, então normalmente eles não irão achar maneiras de ficar discordando de você, porém, se for necessário dizer algo eles o farão SEM RODEIOS. Sem encher de florzinha aqui e ali. Sem preocupação com o resultado no outro do que será dito, porque isso não faz parte do pensamento sueco.
Frio? Seco? Egoísta?
Depende do ângulo em que se vê a questão.
Se você, eu ou o outro vai ficar arrasado com a resposta blá blá blá para uma pessoa com cultura tipicamente sueca isso é um problema só seu, meu, dele. Não diz respeito a quem está dizendo ou à forma como foi dito, mas a forma como foi recebido.
Obviamente também não estou afirmando que este povo escandinavo adora dar "chapoletada" no outro. Não. É que eles são mais diretos do que nós.
Ser sincero é algo natural. Dizer "não" é tão natural quanto dizer sim.
Eu, quem durante minha vida aqui, costumava ser a rainha dos rodeios porque minha obrigação sempre foi "agradar, ser legal, ser simpática e querida não importa o que aconteça e o que eu pense" mudei drasticamente depois desses quatro anos. Se não gosto, se não quero, se não concordo, quando vejo eu já disse. Chega a ser estranho. Tornou-se mesmo meio natural falar o que preciso. Não fico mais de perfumando minhas falas o tempo todo para agradar aos outros. Até dá para ganhar fama de grossa e seca, mas se a gente ganha menos fãs e amigos sendo mais direto, certamente os que ficam são menos trabalhosos dos que aqueles que gostam de muito nhenhenhem...
E nhenhenhem é com certeza uma característica brasilerística por definição! Você concorda comigo, vai querer sair no tapa ou me deixar arrasada???? Hemmmm???
Comentários
Hein, hein???
Tá bom minha cara, mas acontece que isso aqui é Brasil com s e não z, tás sabendo! E a gente floreia mesmo, aprendemos com los portugas que trouxeram esse tal jeitinho e foi aqui desenvolvido no troca troca de espelhinhos e ouro com os índios.
Los portugas com seu nhenhenhé engabelaram os pobres índios e daí pra frente foi adotado este tipo de comportamento, ou seja, tô te ferrando, mas com jeitinho, sem querer ficar de mal, sem você achar que estou contra o que pensa ou o que faz, sem achar que tô querendo te passar a perna e por aí afora.
Noutro dia numa festa de casamento, bati um papo com uma mulher legal, inteligente e que me disse ser casada com um inglês e que ele adora, ama de paixão o Brasil. Que ela morou alguns anos na Inglaterra e engordou 20 quilos e que aquele povo era frio e meio assim, grosso, sem rodeios e diretos. Coisa que o próprio marido dela, inglês, odiava e que admirava inclusive isto no nosso povo, ou seja, esta amabilidade, esta afabilidade, este comportamento amistoso, legal, gente boa que somos nós. E aí ela também teceu amores ao Brasil e nosso povo, dizendo que para eles não tem lugar melhor para se viver neste mundo, embora mantenha a casa em Londres e outra em Israel.
Saí dali, pensando, será isto então que tantos estrangeiros ficam de quatro por nosso país? E agora você mostrando toda esta diferença e que para muitos de fora é justamente a cereja do bolo, o que nos define como um povo amável e hospitaleiro?
Sei não!
Do alto dos meus enta e poucos anos, só agora é que ando repensando sobre esta atitude e acabo achando que você e outras pessoas que assim pensam e agem é que estão certas, mas admito que ainda tenho muita dificuldade para dizer Nãos, embora não me considere 'boazinha' e sim uma boa pessoa.
À propósito, vou começar a treinar uns Nãos a partir de hoje.
A culpa é sua!
bjs cariocas
Ai Senhor, sair nos tapas não porque detesto ficar de "mal', ahahah.
Isso é cultural não é Somnia? É aquilo que a Beth falou: tô te ferrando mas com jeitinho para nao ficar muito magoado e numa outra situação, a gente ainda conseguirá conversar.
Somnia, eu detesto conflito, sério. Evito sempre que posso. Acho que por isso também tenho meus nhemnhemnhem. Fico enrolando, perfumando a coisa.
Claro há situações que o NÃO vem assim direto e reto. Dinheiro emprestado? Sinto muito, nao posso.
Fazer tal coisa para mim? Se nao puder também digo que não. A menos que possa ser feito em outra ocasião, a pessoa nao tenha pressa, estas coisas.
Tô aprendendo muito com meu chefe, que é sempre uma pessoa muito direta. No inicio eu achava meio grosseiro, mas hoje vejo que assim é melhor. Sem engambelação (conhece esta palavra, ahahah).
Este do docinho, kkkkkkkkk, ri muito por que eu já fiz isso um montão de vezes. Coisa ruim e vc fala: diferente né?
Isso para nao magoar o fulaninho, ou para nao parecer que nao sabe apreciar algo diferente, enfim.
Exemplo: amiga querendo me dar uma bota dessas com salto que parece uma pata de vaca, sabe?
E eu: ah, em vc fica legal, pq é alta, tals. Eu que sou baixinha fico ainda mais baixinha, pesa no visual. Agradeço, mas nao vou ficar não.
Dizer que acho horrivel iria machucá-la profundamente, ahahahahahahhahahahahhaahahhahahaha.
Entendi seu ponto de vista, o caso da assinatura foi bem ilustrativo.
Na realidade, eles não têm nada contra a síndica, mas contra a atitude dela. Era só explicar isso e sem delongas.
Custa-me muito ser direta.
Sabe uma pessoa estranha? Sou eu.
Assim: jamais lhe pediria algum favor que fosse um incômdo, mas se souber que vc precisou de algo e não me procurou, fico "magoada", entende?
Então, procuro sempre rodear, esmerilar, burilar uma resposta, para que vc entenda que eu sou boazinha, só não posso lhe servir agora...
Mas já aprendi a dizer os "nãos" que realmente me incomodam.
Falta não sentir "culpa".
pra mim tambem e ate hoje!
Como voce Betona, Lu e Lucinha!
e dificil ser direta mesmo... e eu ouso dizer que o fato da gente ter uma educacao muito catolica tem culpa nisso... ao menos para mim eu cresci achando que tinha que ser uma menina boazinha. Educada, sem ser grossa, sem discordar brigando etc...
fui sempre o contrario, mas sempre tida como a grossona da paroquia! ainda assim sou que nem lucia fico magoativa facil mesmo sabendo que nao tem nada a ver..
e um aprendizado ser mais franca...
na suecia ao meu ver nao ha essa culpa em ser sincero, entende?