Pular para o conteúdo principal

Sobre algumas afinidades eletivas ou "Purtugal" em todo canto da Suécia


(Vista de Lisboa e do Tejo, o rio mais bonito da aldeia do Fernando Pessoa)


Eu disse que faria posts sobre Milano, mas esse aqui, sobre Portugal, já estava pronto há algumas semanas e só me faltava revisar. Então, Portugal primeiro...

....

Portugal aqui dentro: eu e todas as Marias

(O grupo português Madredeus, que tem o poder de nos ligar à Portugal e aos portugueses)

Meu amor com Portugal começou, talvez, há uns 15 anos.
Antes disso, eu só tinha duas referências: uma bem negativa que formei aprendendo sobre o "Descobrimento do Brasil" e outra positiva-fantasiosa que vinha da idéia que eu tinha de pertencer a uma geração remota que tivesse vivido em Portugal, já que meu sobrenome "Carvalho" sugeria isso. 

Também tinha o fato de minha avó materna, Maria (minhas duas avós e minha mãe se chamam Maria, e eu me chamo Sônia Maria, ó Marrriia!), ter todo o tipo português: baixinha, troncudinha e com bigodichs. 

Infelizmente não sei se da história de meus antepassados. De meus avós maternos não consegui nada que confirmasse a suspeita (minha mãe carrega o Coelho). Minha avózinha, com pouca memória, só me garante que sua mãe era baiana. Fora isso, meus avós paternos morreram enquanto eu ainda era pequena, logo, minha fonte de informação pára por aqui mesmo, na imaginação. 

A verdade é que esse meu "amor" começa com uma das amigas mais queridas que tive até hoje e que, num piscar de olhos, pluft! desapareceu do mapa, a Irene Carvalho. Conheci Irene numa tarde de domingo, num encontro de catequistas. A portuguesinha bonita e simpática estava chegando da terrinha para trabalhar como Carmelita no Brasil. E eu que era da turma que achava que queria ser freira, ou algo que valesse, logo fiz amizade com ela.

Outra verdade é que com Irene eu troquei quase tudo: muito pouco sobre religião. Fizemos cursinho juntas em Campinas, estudávamos para entrar na Unicamp nos fins de semana e líamos juntas as poesias do Fernando Pessoa que ela me ensinou a amar e apreciar.
Com ela também conheci os Madredeus, Amália Rodrigues e Dulce Pontes, as rainhas do Fado Português. E essa loucura por ouvir essa língua lindamente cantada me levou com o Renato à Lisboa, em nossa primeira viagem juntos à Europa. Adorei. 



"Ai, Mouraria...": Portugal na Suécia


(Os bondes de Lisboa fazem a gente viajar num tempo em que não viveu, mas tem claro na memória)

Estar em Lisboa é como estar na casa dos seus parentes. Você se sente completamente em casa! E não é só porque os portugueses, como nós, falam muito alto, brigam com a Maria no meio de todo mundo e a mandam para aquele lugar, mas também porque têm "us mesmus bulinhus", salgadinhos, jeitinho, tudo! E aí a gente entende a coisa da colonização mesmo! Mas também vê por um lado muito bonito: a herança do passado. Vemos com quem aprendemos o jeito de ser, ou, pelo menos, parte desse nosso jeito, já que somos mesmo uma boa mistura aí no Brasil. 

Aqui na Suécia, eu esperava fazer amizade com suecos, claro! Porém, minha ilusão durou mais ou menos um ano. Já percebo que é difícil ser "amiga", messsmo, de uma sueca. Posso ser colega. Me encontrar, trocar idéias, mas demora muito a ser amiga de um deles, porque eles são muito mais reservados que a gente. 

Fiz amizades com algumas mães suecas, com as quais eu me encontrei algumas vezes. Todas elas muito, muito simpáticas e suuuper atenciosas. Masss, eu não consigo ter intimidade para ligar e dizer: "fulana, vamos bundar no shopping?" 

Fiz amizades com brasileiras, vocês já sabem. E essas poucas são muito ótimas. Contudo, uma das melhoras amizades que fiz aqui foi com uma portuguesa, de nome??? Maria! é claro, ó Maria!

Esses dias a Maria veio aqui em casa, tomou café, brincou com "u mininu Ângilu", como ela diz. E ouvir a Maria falar, brincar etc dá uma sensação muito gostosa. Resgata a saudade que eu tenho da Irene, de quem perdi o contato, me liga aos Madredeus, ao fado, a Fernando Pessoa. Foi ouvindo Maria dizer "morro!!!", no meio da rua, que percebi que Fernando Pessoa só tem esse jeito e essa expressão, porque é poeta de alma portuguesa.


Portugal por muitos olhos


(Desenho do poeta, cuja alma foi a mais portuguesa dos portugueses:  Fernando Pessoa)

E foi vivendo aqui na Suécia também que fiz amizade (virtual) com Pedro, um português que tava vivendo mais para o norte da Suécia, se não me engano em Gotemburgo, ou próximo de lá.
O Pedro tem um blog. Lá ele conta sobre sua experiência como estagiário em Informática, durante um ano, neste país. Mas o Pedro é totalmente diferente de mim. Vivemos coisas muito parecidas, mas ele é muito objetivo. Fala pouco, é engraçado demais e pega no xis da questão.
Esse texto, nas mãos dele, teria terminado no primeiro parágrafo. E teria dito tudo! Ele tem o dom! Eu não... sou daquelas que tem assunto para umas doze horas de conversa sem interrupção.

Pois, pois. O Pedro foi homenageado por uma rádio de Portugal e o blog dele fez parte de um programa que toma blogs como tema. E só para tentar encerrar esse texto sobre os portugueses, queria deixar aqui o endereço do Pedro. E uma sugestão para que vocês saboreiem o blog do Pedro, porque ele é português demais. É delicioso ler o blog. 

Hoje, eu sugiro que me dêem um pouco de crédito: ouçam um pouco do programa, "O meu blog dava um programa de rádio", no qual o "Jogo da Sueca" foi tema: vocês, com certeza, irão sentir essa coisa gostosa da qual estou falando, terão ums minutos muito agradáveis. Agradáveis não! Isso é linguajar de sueco. Deliciosos! Saborosos! SSSpetaculares!, como diria a Maria.

Foi neste programa que eu ouvi algumas músicas portuguesas que me transportaram daqui do meu cantinho da Suécia para o mundo. Me deu orgulho de me conectar com gente do mundo que consegue sentir as coisas como sinto e que consegue fazer de uma manhã comum, um dia muito especial. E fiquei agradecida à essa tecnologia que se chama internet.

Para quem quer mesmo provar essa afinidade eletiva (termo do Goethe que eu adoro e entendo cada vez mais), eu sugiro ainda, tire uns minutinhos para ouvir as canções que coloquei no link ao lado do blog. Uma mais tradicional, um fado maravilhoso da Dulce Pontes, "Canção do Mar" e a outra, de Sérgio Godinho, "Primeiro Dia". 

Boa semana para todos os Pedros e para todas vocês, ó Mariass!!!


Comentários

Anônimo disse…
Fazia um tempinho que eu não borboletava pelo seu blog. É bom passar por aqui e matar um pouquinho da saudade.

Bjs,

Tia Dri

Postagens mais visitadas deste blog

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que